É um campo verde e vasto
É um campo verde e vasto, Sozinho sem saber, De vagos gados pasto,Sem águas a correr. Só campo, só sossego, Só solidão calada. Olho-o, e nada nego E não afirmo nada. Aqui em mim me exalço No meu fiel torpor. O bem é pouco e falso, O mal é erro e dor. Agir é não ter casa, Pensar é nada Ter. Aqui nem luzes (?) ou asa Nem razão para a haver. E um vago sono desce Só por não ter razão, E o mundo alheio esquece À vista e ao coração. Torpor que alastra e excede O campo e o gado e os ver. A alma nada pede E o corpo nada quer. Feliz sabor de nada, Inconsciência do mundo, Aqui sem porto ou estrada, Nem horizonte no fundo. |
Deixo ao cego e ao surdo A alma com fronteiras, Que eu quero sentir tudo De todas as maneiras. Do alto de ter consciência Contemplo a terra e o céu, Olho-os com inocência : Nada que vejo é meu. Mas vejo tão atento Tão neles me disperso Que cada pensamento Me torna já diverso. E como são estilhaços Do ser, as coisas dispersas Quebro a alma em pedaços E em pessoas diversas. E se a própria alma vejo Com outro olhar, Pergunto se há ensejo De por isto a julgar. Ah. tanto como a terra E o mar e o vasto céu, Quem se crê próprio erra, Sou vário e não sou meu. Se as coisas são estilhaços Do saber do universo, Seja eu os meus pedaços, Impreciso e diverso. Se quanto sinto é alheio E de mim sou ausente, Como é que a alma veio A acabar-se em ente ? Assim eu me acomodo Com o que Deus criou, Deus tem diverso modo Diversos modos sou. Assim a Deus imito, Que quando fez o que é Tirou-lhe o infinito E a unidade até. |
OI Aline,
ResponderExcluirEu tambem adoro as poesias de Fernando Pessoa...
Bjs!